domingo, 20 de setembro de 2009

POESIAS DE CARLOS DRUMOND DE ANDRADE


Trago hoje para os meus leitores, algumas poesias de Carlos Drumond de Andrade que me tocaram muito!! Apreciem...


A UM AUSENTE


Tenho razão de sentir saudade,tenho razão de te acusar.

Houve um pacto implícito que rompeste e sem te despedires foste embora.

Detonaste o pacto.

Detonaste a vida geral, a comum aquiescênciade viver e explorar os rumos de obscuridades em prazo sem consulta sem provocação até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.

Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.

Que poderias ter feito de mais grave do que o ato sem continuação, o ato em si, o ato que não ousamos nem sabemos ousar porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti, de nossa convivência em falas camaradas, simples apertar de mãos, nem isso, voz modulando sílabas conhecidas e banais que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.

Sim, acuso-te porque fizeste o não previsto nas leis da amizade e da natureza, nem nos deixaste sequer o direito de indagar porque o fizeste, porque te foste.



Carlos Drumond de Andrade.



AS SEM-RAZÕES DO AMOR


Eu te amo porque te amo,

Não precisas ser amante, e nem sempre sabes sê-lo.

Eu te amo porque te amo.

Amor é estado de graça e com amor não se paga.

Amor é dado de graça, é semeado no vento,na cachoeira, no eclipse.

Amor foge a dicionários e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo bastante ou demais a mim.

Porque amor não se troca, não se conjuga nem se ama.

Porque amor é amor a nada, feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte, e da morte vencedor, por mais que o matem (e matam) a cada instante de amor.


Carlos Drumond de Andrade.

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