terça-feira, 11 de agosto de 2009

Início


Estou tendo a oportunidade de degustar o livro "Perdas e Ganhos" da escritora gaúcha Lya Luft e, com isso, aprendendo e refletindo mais sobre a vida, esperança e sonhos (o qual recomendo a todos por se tratar de uma conversa entre leitor e escritor e pelas palavras confortantes e cheias de vida). Como início da experiência em poder e desejar compartilhar a beleza da vida por meio das palavras que aqui serão deixadas, tomo como ponto de partida uma parábola do referido livro que no ensina principalmente a respeito de nossas próprias vidas e do que temos feito dela.

Segue a estória:


"O homem estava pegando as chaves do carro (a mulher já tinha saído para levar as crianças à escola) quando tocaram a campainha.

Vagamente irritado, pois já se atrasara bastante, ele abre a porta:

- Sim?

O rapaz alto e estranho, belo e feio, alto e baixo, negro e louro, faz um sinalzinho dobrando o indicador:

- Vim buscar você.

Não era preciso explicar, o homem entendeu na hora: o Anjo da Morte estava ali, e não havia como escapar. Mas, acostumado a negociações, mesmo perturbado ele rapidamente pensou que era cedo, cedo demais, e tentou argumentar:

- Mas, como, o quê?Agora, assim sem aviso sem nada? Nem um prazo decente?

O Anjo sorri, um sorriso bondoso e perverso, suspira e diz:

- Mas ninguém tem a originalidade de me receber com simpatia neste mundo, ninguém nunca está preparado? Está certo que você só tem 40 anos, mas mesmo os de 80 se recusam...

O homem agarrou mais firme a chave do carro, que afinal encontrara no bolso do paletó, e insistiu:

- Vem cá, me dá uma chance.

O Anjo teve pena, aquele grandalhão estava realmente apavorado. Ah, os humanos... Então teve um acesso de bondade e concedeu:

- Tudo bem. Eu te dou uma chance, se você me der três boas razões para não vir comigo desta vez.

(Passava um brilho malicioso nos olhos azuis e negros daquele Anjo?)

O homem aprumou-se, claro, ele sabia que ia dar certo, sempre fora bom negociador. Mas quando abriu a boca para começar sua ladainha de razões, muito mais que três, ah sim, o Anjo ergueu um dedo imperioso:

- Espera aí. Três boas razões, mas... não vale dizer que seus negócios precisam ser organizados, sua família não está garantida, sua mulher nem sabe assinar cheque, seus filhos nada sabem da realidade. O que interessa é você, você mesmo. Por que valeria a pena ainda te deixar por aqui algum tempo?" (Luft, 2003, p.54-55)

Com isso, faço a seguinte reflexão: o que temos feito conosco e, mais que isso, o que vale a pena hoje para você? Teríamos boas argumentações para dar ao Anjo? Assim, deixo com todos aqueles que porventura me concederem o privilégio de ler tais palavras, descobrir comigo a beleza da vida "e a delícia de ser o que é", como bem escreveu Caetano Velloso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário