Meu corpo não é meu corpo, é ilusão de outro ser
Sabe a arte de esconder-me
e é de tal modo sagaz,
que a mim de mim ele oculta.
Meu corpo, não meu agente, meu envelope selado,
meu revólver de assustar, tornou-se meu carcereiro,
me sabe mais que sei.
Meu corpo apaga a lembrança que eu tinha de minha mente.
Inocula-me seu patos, me ataca, fere e condena por crimes não cometidos
O seu ardil mais diabólico está em fazer-se doente.
Joga-me o peso dos males que ele tece a cada instante
e me passa em revulsão.
Meu corpo inventou a dor a fim de torná -la interna,
integrante do meu Id´
ofuscadora da luz que aí tentava espalhar-se.
Outras vezes se diverte sem que eu saiba ou que deseje,
e nesse prazer maligno, que suas células impregna,
do meu mutimo escarnece.
Meu corpo ordena que eu saia em busca do que não quero,
e me nega, ao se afirmar como senhor do meu EU
convertido em cão servil
Meu prazer mais refinado, não sou eu quem vai senti-lo.
É ele, por mim, repace, e dá mastigados restos à minha fome absoluta.
Se tento dele afastar-me, por abstração ignorá-lo,
volta a mim com todo o peso de sua carne poluída, seu tédio, seu desconforto.
Quero romper com meu corpo, quero enfrentá-lo, acusá-lo, por abolir minha essência,
mas ele sequer me escuta e vai pelo rumo oposto.
Já premido por seu pulso de inquebrantável rigor,
não sou mais quem dantes era: com volúpia dirigida, saio a bailar com meu corpo.
(Drummond)
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