terça-feira, 24 de novembro de 2009

AS CONTRADIÇÕES DO CORPO


Meu corpo não é meu corpo, é ilusão de outro ser

Sabe a arte de esconder-me

e é de tal modo sagaz,

que a mim de mim ele oculta.

Meu corpo, não meu agente, meu envelope selado,

meu revólver de assustar, tornou-se meu carcereiro,

me sabe mais que sei.

Meu corpo apaga a lembrança que eu tinha de minha mente.

Inocula-me seu patos, me ataca, fere e condena por crimes não cometidos

O seu ardil mais diabólico está em fazer-se doente.

Joga-me o peso dos males que ele tece a cada instante

e me passa em revulsão.

Meu corpo inventou a dor a fim de torná -la interna,

integrante do meu Id´

ofuscadora da luz que aí tentava espalhar-se.

Outras vezes se diverte sem que eu saiba ou que deseje,

e nesse prazer maligno, que suas células impregna,

do meu mutimo escarnece.

Meu corpo ordena que eu saia em busca do que não quero,

e me nega, ao se afirmar como senhor do meu EU

convertido em cão servil

Meu prazer mais refinado, não sou eu quem vai senti-lo.

É ele, por mim, repace, e dá mastigados restos à minha fome absoluta.

Se tento dele afastar-me, por abstração ignorá-lo,

volta a mim com todo o peso de sua carne poluída, seu tédio, seu desconforto.

Quero romper com meu corpo, quero enfrentá-lo, acusá-lo, por abolir minha essência,

mas ele sequer me escuta e vai pelo rumo oposto.

Já premido por seu pulso de inquebrantável rigor,

não sou mais quem dantes era: com volúpia dirigida, saio a bailar com meu corpo.


(Drummond)

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